domingo, 30 de outubro de 2011

Bok é livro e nome de árvore. E o esquilo gosta de bok









Ainda no outro dia me aconteceu isto...






Pouco «Balada», mas claramente «de Outono»

Hej!
Então, como vamos? Mais gerúndio, menos gerúndio?
Bom, eu suspeito que a tabuada do 2 já mal chega para calcular os dias em que não dei aqui notícias... Reconheço uma percentagem de preguiça, e lamento. A maior razão do silêncio, porém, prende-se com uma troca de sentidos: passei do tacto da escrita à visão de palavras dos outros.
Virei-me para a leitura, entre o português e o sueco, e depressa "re-conto" porquê: faltam precisamente 2 semanas para ter lugar, aqui na Biblioteca, uma breve sessão dedicada à Lusofonia, um atrevimento que euzinha tenho vindo a organizar.
Ora, eu não sei ler as mãos do futuro, desconheço que resultado pode ter a noite de 14 de Novembro, mas sei a priori que já cumpriu os bons propósitos de me manter ocupada, reflexiva e criativa (enfim, escalas modestas...) , e de reunir pessoas interessadas e interessantes - novos amigos, que mais é que é preciso?!
Umas cantigas portuguesas (a «Balada de Outono» uma delas), outras brasileiras; a leitura de uns excertos; momentos de dança: isto tudo para ajudar a narrar, de forma simples, a estória de uma tal Lusofonia, em que a palavra Saudade é conhecida de todos.
Prometo (acho eu) que qualquer pó de nostalgia que queira pairar será disperso no fim, pela doçura de um Bolo de Requeijão, da Sericaia ou da Torta da Rita - há que deixar o público com sede... de mais palavras. Afinal, o serão é numa Biblioteca, e nunca me parece demais recordar aos leitores que os livros precisam de companhia; as follhas precisam de ser visitadas, tocadas, lidas, sentidas. "Provadas", porque não?
Se não fosse assim... pedir muito..., queria que torcessem aí para que tudo corra bem. Óbrigadinha, sim? Sempre dá um aconchego bom saber que se juntam bons pensamentos por esta causa simples.
Ah, ainda posso acrescentar que a Embaixada Portuguesa em Estocolmo tomou conhecimento do evento e mostrou um entusiasmo que me soa muito positivo: vão ajudar-me a divulgar a sessão, e confio que alguns elementos possam mesmo vir a Västeras assistir. Não falarei nem cantarei a Língua-Mãe sozinha!
*******
Esta tarde acriancei-me. Não é difícil! Basta que as árvores estejam na época de perder folhas, que caem como se fossem neve, leves e lentas: então, a criança estica os braços, agita os dedos, pula, pula outra e outra vez, tudo para tocar nas folhas que vão dançando no ar antes de descansarem no chão. Olh'áquela!! Mais uma! Esta, é esta que me vai cocegar as pontas dos dedos!
Se vinha alguém atrás da minha caminhada e me viu naquele pagode gaiato... tanto me faz! Eu cá diverti-me!
Só é preciso ter muito cuidadinho com os tapetes manhosos que se vão acumulando no chão! As benditas folhas, não há "técnico de superfície do município" que as venha varrer, e à mistura com umas gotas de chuva forma-se uma papa escorregadia com um talento especial: fazer cair o cidadão mais desatento.
*******
Ideias soltas, para terminar.
Três veados no quintal, à procura dos restos de Outono.
A vizinha Monica ajuda-me, semanalmente, a estudar sueco e a pronunciar os sons (já os disse de forma muito ridícula, agora é só já um bocadinho risível).
Mais mimos enviados pelos Vivis na bagagem do Rogério - OBRIGADA pelas guloseimas, e um abraço ao Rogério (porque soube muito bem encontrar aqui alguém de Montemor, o maior dos montes).
Voltei às cópias e à esferográfica sobre o papel, good old paper: estudo sueco copiando traduções de Saramago, Eça, Eugénio, Drummond, Amado, Assis, Sophia, Pessoa... Há coisas muuuuito mais giiiiras para fazer na vida, mas este ritual de escola primária também não calha mal de todo quando o vento e o frio estão lá fora.
Se encontrarem o meu pai, com a pilha habitual de papéis e livros e carteira e chaves em cima da mesa do café, perguntem-lhe se tem o livro de Tomas Tranströmer, o Nobel Literário de 2011 ;)
Saudades e abraços.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

«Ingenting, absolut ingenting!» - Västeras Teatersällskap, FÖRESTÄLLNINGEN


Nada, absolutamente nada.
Nothing, absolutely nothing. Nothing can stop an artist from loving Art. An actor won't cease being an actor, even when the stage is pulled from below his feet or the doors of the Theater are closed. A broken leg or an injured foot cannot deprive a man or a woman from their gift, their special talent. Nothing, absolutely nothing can silence the genuine laughter and applaud of a happy audience.
«I wanted to become an actress to change the world!», said Mademoiselle Des Crêpes. As if to tell us that being an actor is a meaningful, unselfish and generous way of life; as if to reveal to us that being an artist is mostly about to be, not so much about to have.
Art was born to echo Nature, and we are Nature, we don't have it. Also Love is a matter of being, not of having. Artists know it, actors know it, all human beings know it but need to be reminded of it... Politicians don't know it, or seem to have forgotten it. In Portugal, in Greece, in Sweden, and, as I can guess, in so many other countries people want to talk about «pengar, pengar, pengar!» (money, money, money!), while Culture endeavours to survive.
We know that Theater gathers people, unlike money, that divides interests and opinions and splits affections. In fact, if we think of it, there are countless words for "money" around the world, but the word "Theater" happens to be very similar in several languages.
Theater, as Music, Literature, Dance or Painting, can be universally understood and, like Brecht himself considered, the spectator is intelligent and a play on stage won't let him/her feel indifferent, detached or unconcerned.
Last saturday, at Västeras Teater, I wasn't indifferent to Föreställningen.
Molière's fake doctors and other unmistakable characters stepped on stage disguised as real people. Or could it have been the other way around? The director and actor Tomas Tjerneld, who also adapted and wrote the play, successfully led the audience through a remarkable and satirically smart performance about the illnesses of Culture and the pains and distresses of actors, who are, after all, sensitive human beings, like all of us.
Nothing, absolutely nothing was missing and it was a wonderful première!! Grattis!!
*******
Peter Brook said that an empty space is one of the basic conditions to begin a theatrical moment: a person crosses that space and another one watches, and that could become theater.
Nevertheless, no one crosses a space as meaninfully as an actor and the Stage is meant to be the space he steps on. The world needs actors and stages! People need artists to tell them stories, to make them think, to feed their soul and creativity.
*******
With tender, sparkling wide open eyes, Madame De Brie said that actors love the audience. Well, the audiences love what artists can make them feel. It's a mutual fondness! And it's impossible to replace it by football stadiums or shopping malls. It's about being, not about having!
Did I sound too utopist? Maybe, I won't deny it.
But I would ask instead:Should the world remind politicians that Art/Culture is not an exclusive characteristic of Utopia?

sábado, 8 de outubro de 2011

De como um homem pode pôr uma cidade de olhos no chão



Saudações fresquinhas! (Coisa para 1 grau, 1 grau e meio.)
Foi mais de uma semana de preguiça, sim senhor. Mas estou de volta, e temos escrita para pôr em dia.
Não será tudo para hoje... mas comecemos:
A carta que andava desnorteada, achou-se!
«Ah, que grande alegria!!!»... Pois, mas ainda não é a alegria toda, é só um bocadinho... Quer dizer: em justiça sim, é muito positivo ter uma carta do serviço de migração, que me reconhece como cidadã europeia com autorização de residência na Suécia pelo tempo que eu desejar. No entanto, este ainda não foi o documento que encheu as medidas dos Senhores do Número, que, entretanto, já me pediram mais documentação e que não têm, p'rá troca, nem a previsão de uma data para me sossegar a ansiedade do calendário [ansiedade do calendário: sintoma dos cidadãos residentes na Suécia que desconhecem a data em que lhes será atribuído o tão esperado Número Pessoal.]
Registe-se: só já volto a escrever sobre o Número e/ou outros eventos burocráticos quando for para comemorar o fim de todas as esperas! Nesse dia, para celebrar, sou até capaz de, sei lá, de uma loucura! Andar de bicicleta, por exemplo! [nota: A frase anterior não é uma promessa, é um mero recurso estilístico, para acrescentar interesse ao texto (ou não).]
*******
Deixem que conte, também, que a visita dos Vivis foi um aconchego bom, muito bom!!Rapidamente voltam as saudades, claro; porém, enquanto estiveram aqui pertinho, o coração encheu-se de coisas boas! E os abraços que saíram da bagagem, vindos dos braços de tantos amigos, foram um mimo de luxo. MUITO OBRIGADA!
Diga-se, aliás, que alguns dos "mimos viajantes" eram de peso: postas de bacalhau (anteontem cozinhadas à Zé do Pipo); biscoitos de azeite e canela da padaria Almodôvar e bolinhos de amêndoa da Violeta (Pub.), bolo branco (que já foi bolo e já foi branco); castanhas, nozes e marmelada, em jeito de Outono; queijinhos cheirosos do Alentejo; ervas diversas das que o Mestre Salgueiro recomenda, boas para tudo e mais alguma coisinha... Tudo de bom, portanto, para colesterol e triglicéridos, mas também para os combater.
Allt var jätte, jättegott!
*******
No Dia da República, um avião levou os meus pais de volta para um Portugal mais que morno, e aqui ficou uma Suécia onde os tons dourados e vermelhos das árvores começam a ceder às noites frias e ao vento - os ramos cansam-se do namoro com as folhas e deixam-nas cair. Para o ano há mais, com folhas jovens e verdes, acabadas de trazer pela Primavera.
... ... ... Estava capaz de apagar e tentar de novo o parágrafo, melhorá-lo... mas como o Prémio Nobel já está entregue, não vale a pena. [Pela vossa rica saúde, não me levem a sério, que isto é só da liberdade irónica das palavras!]
Sinto como um privilégio, estar neste país no momento em que um Prémio regressa à casa, após 37 anos! A Suécia vibrou, de facto, por Tomas Tranströmer, e Västeras festeja com os olhos postos no chão!
Vamos ver se me faço entender: o poeta que a Academia Sueca distinguiu este ano viveu nesta mesma cidade de onde agora vos escrevo. Entre 1965 e 2000, Tomas Tranströmer observou daqui a natureza, criou aqui metáforas e imagens, escreveu aqui uma poesia para todos, que é lida por todos. Há alguns anos, o município quis homenagear o ilustre concidadão, espalhando versos seus nas "calçadas" do centro. A notícia do prémio devolveu aos olhos de Västeras a curiosidade pelas palavras que os pés se habituaram a ignorar.
Tanto quanto vim a perceber, Portugal não cabe devidamente na lista de países onde a obra de Tranströmer está traduzida. Oxalá possa chegar às bancas, em breve, algum trabalho do autor: do que leio e percebo no original, é uma poesia aparentemente despretensiosa, simples, reveladora da relação tem que o Homem com a Natureza daqui - mas cada palavra é rica em sentidos.
A ler!
Para além dos versos e das metáforas, Tomas Tranströmer tem também uma paixão pelo piano, e nem a limitação de movimentos, provocada por um AVC, o impede de afagar ainda as teclas com a mão esquerda. Em reconhecimento da força poética que é a Vida de um criador, deixo um tema musical de outras grandes mãos da Suécia - Jan Johnasson.
Volto depois para contar mais. Bom início de semana!