sábado, 25 de fevereiro de 2012

Um parágrafo para cada apontamento

Boa noite! Estamos todos bem?
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Estou a escrever-vos enquanto, a uns quantos palmos de mim, a televisão oferece uma peça de teatro. É Gustav III, pelo dramaturgo desaparecido há 100 anos e que agora se comemora por toda a Suécia: August Strindberg (o g do fim não se lê).
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Dores nas pernas. Como se tivesse treinado horas, em sofrimento, no ginásio (aonde, por sinal, já há duas semanas que não vou, por falta de tempo). Tudo porque Estocolmo é grande e eu, que sou da província (do cãmpo), perco-me em círculos e ando mais do que é preciso. Falo-vos de 5.ª feira passada, a propósito. Ainda assim, as caminhadas valeram o incómodo muscular: tive uma promissora entrevista de trabalho e isso pode querer dizer que a capital tem planos para mim no próximo ano letivo!
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Um cumprimento especial aos senhores taxistas, que prestam um grande serviço, mas que são iguais em todo o mundo. Onde nasceram ou como tiraram a carta, não faz diferença. Todos (exceção feita ao sr. Danado!) ultrapassam os limites de velocidade, fazem manobras perigosas, travam muito em cima da hora e ofendem os condutores das faixas vizinhas. A diferença que encontro é mesmo só no preço... Ai!!
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O trabalho que começo na 3.ª feira será um desafio. Isso só pode ser bom! Vou "ensinar" a nossa língua, mas o sotaque será o do outro lado do Atlântico. Ora, hoje foi um dia para estudar o Brasil: estados, cidades, fatos, personalidades, vocabulário. Amanhã certamente que vou cantar muito Jobim, Veloso, Adriana, etc., para afinar a pronúncia melódica e doce do brasileiro. A primeira aula está construída, as seguintes estão pensadas, e nunca se pára de aprender. Muito bacana, n'é?
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A Birgitta fez um bolo com 4 camadas! A Evelina e a Sofia foram boas assistentes, é bom de dizer. Por momentos, enquanto as observava na cozinha, recordei cenas do filme da Disney, A Bela Adormecida, com as três fadas boas esforçando-se por preparar um ambicioso bolo de aniversário para a sua afilhada. No caso das três meninas Langström, a varinha mágica é o talento natural e o resultado final mediu-se pelo número de "interjeições de delícia" (não existem na gramática, mas os sentidos conhecem-nas) dos sortudos que puderam provar.
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Março está com pressa em chegar e vai ser um bom mês. Vou ter visitas!! :) Sei, contudo, que a Escandinávia não é "já ali" e, assim sendo, sabemos encontrar outras formas de nos visitarmos. Não é? Sabe tão bem quando escuto a vossa voz, leio as vossas palavras ou vejo os vossos sorrisos!! :)
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A vida é uma dádiva muito boa! Fica melhor ainda quando há Felicidade naqueles de quem gostamos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

PARECE-SE COM QUEM?!?!



O convívio com a diversidade de culturas é um dos pontos altos para quem estuda numa universidade no estrangeiro. Digo eu.
Conhecem-se pessoas de todas as partes do mundo e que, por um casual interesse comum (a Suécia), convergiram para o mesmo lugar. Iranianos, polacos, chineses, coreanos, russos, australianos, americanos... A grandeza do Globo tornada quase pequena, de estarmos tão próximos uns dos outros: na sala de aula, na pausa para fika, no bar a almoçar.
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Pois num dos momentos de saudável convívio, em que uns tapam outros com perguntas, "como é que é no teu país isto e aquilo?" - num desses momentos, um colega chinês estende-me o iPhone e diz:
«Acho-te parecida com ela. Desde a primeira aula que andava a tentar perceber quem é que eu conhecia que se parecia contigo. Inteligente e divertida ao mesmo tempo, com franja e óculos.»
E dito isto, sorriu e recolheu o aparelho que já é quase tudo menos telefone.
Bom, então parece que me falta um boné com asas, que ela também usa às vezes. E chama-se Arale numa tal série Dr. Slump. De resto, quer-me parecer que a chinezisse do meu colega foi bem intencionada :)
Fiquem a saber que, para além de ser parecida com o pai Vivi, também dou ares a um desenho animado! :D

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Tracking Harry Potter




Gloucester Cathedral




Gloucester, Howells, Judith & Bill



Sinto-me agora muito tola por ter pensado que o "mais fixe" da visita a Gloucester seria o contato fugaz com os cenários da fantasia harrypotteriana. Vera, vê se cresces!! :P
O fim de semana na cidade principal de Gloucestershire foi uma feliz experiência musical, e a Música, por sua vez, é um caminho quase infalível para os afetos.
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A catedral, de dimensão majestosa proporcional ao frio e à humidade do interior, é um edifício em muito comparável a um tal navio sueco que só navegou sobre a ambição: ambos têm uma história cheia de maus cálculos de engenharia.
Contudo, no caso da grande igreja iniciada no séc. XI, a teimosia (ou porque não chamar-lhe desenrascanço?!) falou sempre mais alto, e com remendos dali, acrescentos daqui e remodelações de perder a conta, a menina dos olhos de Gloucester lá está! Há que mencionar uma parede com uma dada tendência para a horizontalidade... mas enquanto se está lá dentro é melhor nem pensar nisso!
Os vitrais são magníficos. Se as nuvens quiserem destapar o sol, há um colorido intenso que se espalha dentro de todo o edifício.
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Com a luz misturam-se as vozes. Estou, neste caso, a pensar no Mariakören, que ainda ontem de manhã se juntou na catedral a um coro de gaiatos. Anjos quando cantam! :)
Na beleza do espaço - sobretudo no rendilhado de arcos e abóbadas - e nos cantores angelicais inspirou-se o compositor Herbert Howells. Gosto dele. "Magnificat" e "Nunc Dimittis" soam ali como em mais lugar nenhum (digo eu, levada pela emoção e, talvez, por algum exagero...). E tudo o mais que lá se cante vale a pena!
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Ora, temos o bolo, falta a cereja. Duas cerejas: os anfitriões.
A Judith e o Bill são um casal adorável, generoso, sorridente. É possível, em 5 minutos apenas, sentirmo-nos amigos de sempre ou mesmo membros da família.
English breakfast completo e o delicioso sentido de humor de um casal que já conhece a vida há várias décadas - apenas uma parte da "mordomia" (quase podia tirar as aspas) a que tive direito.
Foram 3 dias encantadores, a juntar à língua inglesa de qualidade - para mim, uma reciclagem sempre bem-vinda.
Thank so very much, Judith and Bill! :)
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Agora é a Escandinávia de novo.
Conto-vos a novidade: vou começar a trabalhar na próxima semana! Serei professora de português em Estocolmo, num curso para adultos. É o começo.
Simultaneamente, as exigências dos estudos também se vão fazer notar mais e mais, mas se não apanhar nenhuma outra constipação sueca este inverno, terei energias para o que for preciso!
Por hoje, os trabalhos de casa estão feitos, a apresentação oral de um artigo de jornal está preparada e não é nada má ideia ir para a cama... Será que durmo? Vem vet?

Carnaval


pr'ós lados da semântica, Carnaval será palavra que pode significar uma tabuada de coisas. A mim, porém, traz-me quatro pensamentos em especial:
- a minha avó Vitalina e todos os amigos que se divertem com máscaras e partidas;
-o dia em que pedi à mãe Mimi que me desenhasse mais uns "carapauzinhos" nas bochechas (uma vez que o banho depois da creche tinha apagado as sarda[inha]s);
-os pastéis de grão, as filhós e as argolinhas de azeite e aguardente que a D. Guilhermina magicava na cozinha;
- o início de um tempo de reflexão.
Aqui na Escandinávia não se vêem paradas nas ruas, as cores são as mais pálidas do ano, o samba e a sua batida são difíceis para os pés do norte e não há pastéis de grão.
No entanto, também se vive a espera pela Quaresma com alguma gula. Um perigo calórico chamado "semlor", com efeitos imediatos... Mas como é Carnaval, se calhar ninguém leva a mal!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Em 5 minutos...

Ontem, um dia de sol sem rasto de nuvens. Apenas azul e brilho. São maravilhosos, os dias assim!
A neve que resta nos telhados volta a ser água e por toda a parte de escutam gotas que caem, qual melodia não ensaiada, nas latas de correio, numa caixa de cartão esquecida, num pedaço de madeira...
O crepúsculo faz o recorte minucioso de cada árvore, cada casa, cada pessoa.
Isto foi ontem.
Hoje, a constipação esteve mais colada ao corpo e o dia não foi nem bom nem mau, antes pelo contrário. Om ni fattar vad jag menar... E em vez de pingas derretidas, chovem trabalhos de casa.
Boa semana, saudades e abraços!
(4 minutos e 28" :) )

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Há fogo, há fogo!

Quem sabe? Quem é que sabe o que acontece hoje à noite?
E amanhã? E até domingo?!
Se lá forem, deixem-me aplaudir convosco! Quando lá estiverem, deixem que me emocione convosco!...
[Estes são os dias em que menos gosto de estar aqui. Nestes dias tenho mesmo frio.]

Cor de chá


Em Portugal bebemos aquele chá, de cor assim... Esse mesmo!
Esta tarde, quando deixei a escola a caminho de casa, era essa a cor do céu. Ou melhor, não era - que isto das metáforas tem muito de subjectivo, já se sabe. (Havemos de falar mais de T. Tranströmer em breve.) Os meus olhos, porém, viram uma tonalidade de luz que me fez lembrar um chá especial e as chávenas bonitas que há na casa da tia Jominha. Eu penso em cada coisa...
Ao longo da caminhada, o tecido cor de chá foi adquirindo umas nódoas esbatidas de cinzento e azul, e quando cheguei à minha rua (aquela que não é a das Piçarras! que essa também é a minha rua) o céu já era um espelho limpo cheio de sol, mas de onde continuava a cair uma neve fininha, de flocos definidos, perfeitos, distantes uns dos outros.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Um problema cabeludo


Ora vejamos: frieiras, aqui não as tenho; constipações, só conto uma com esse nome; frio em casa é coisa que não há... Mas tinha de haver um incómodo manhoso causado por este inverno s(u)eco: o cabelo.
O cabelo fica numa desordem esvoaçante tal, que só apetece esconder tudo debaixo dum gorro (como se faz com o lixo debaixo do tapete - mal comparado, claro!) e voltar a mostrar na Primavera. Uma espécie de hibernação capilar (a comunidade científica que me perdoe estas tolas associações de palavras), até passar esta estação de pôr cabelos em pé. Mesmo!
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Amanhã, às 17h, escuta-se em Västeras um coro de jovens vindo de Gloucester, terra onde sua Majestade Isabel II já é rainha há 60 anos. É muuuito tempo.
Mais ou menos 30 moços e moças com uma pronúncia adorável estão cá de visita, e hei-de ouvi-los na catedral. Estou curiosa para saber como é que eles, nos Salmos, encaixam uma dúzia de palavras na mesma nota... Para o Mariakören não tem sido fácil.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Narrativa de amor e de um violino - uma experiência multicultural


Não, não vou aqui contar a estória!...
Primeiro, amor e violinos são quase um lugar comum, nada de novo; e depois, temos um filete recente sobre um jogo de dados, que também inventa personagens e acções e tudo - chega assim!
O que eu quero mesmo partilhar é a experiência de um grupo: Líbano, Irão, Coreia (a do Sul) e Portugal, juntos a uma mesa da biblioteca para escrever um conto. Um conto a partir de imagens.
Usando um adjectivo de um amigo meu, as ditas fontes de inspiração eram bastante fatelas, mas resolvemos o assunto o melhor que pudemos. Ou porque somos escritores natos (que piada tããão má!) ou porque o multiculturalismo é, verdadeiramente, um meio de aprendizagem muito enriquecedor. A troca saudável de ideias (e de calinadas na língua sueca, também) ensina-nos muito, e entre motivação e criatividade conseguimos realizar a tarefa.
No fundo, a parte menos divertida foi a de ter regras para seguir - cumpri-las vai ajudar a definir a nota do trabalho. Ui!
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Esta é uma parte do que tinha escrito ontem e que desapareceu, precisamente no momento em que eu ia publicar o texto. Que fúria!
Na segunda metade dizia-vos que vi um filme interessante q.b. que reflecte peculiaridades da cultura sueca... Mas isso fica para outras linhas de outro dia.
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Recomendo, para o fim de semana, várias camadas de roupa, lã para a cabeça, pés e mãos, e líquidos (nada demasiado quente). Que a frente fria passe para lá para trás tão rapidamente quanto possível!
Em caso de desespero, pensem que aqui estão -10º de máxima, e que a cidade sueca mais fria ontem à noite registou -42º.
Bom fim de semana!