Antes da uma passei ali numa daquelas ruas, sabem? Cheirava ao almoço bem temperado de alguém, também às sardinhas que ainda iam assar e aos pimentos já assados de outro vizinho, e a gulodice da porta ao lado denunciada por um bolo que suspeitei de côco. Naquela rua, comeu-se bem hoje.
De cheiros e sabores me regalei nestas semanas. Os cinco sentidos generosamente nutridos pela luz, pelas cores, pela fruta que escorreu em sumo pelos dedos...
Mais que tudo, o coração vai cheio e mimado, surpreendido até!
Foram umas férias de mãos e pés pequeninos, de narizinhos perfeitos, de olhos iluminados, de sorrisos e risos contagiantes, de brincadeiras no jardim, de gestos e palavras como quem está em constante descoberta - que filhos maravilhosos que vocês têm e, UAU, que BOM eu poder receber um pedacinho desse Amor!! Se não nos vimos, não foi falta de vontade ou de saudade, foi o tempo que encolheu mesmo diante dos nossos olhos. Fica a promessa, pelo menos o desejo, de que o próximo reencontro virá em breve.
Nisto, Julho foi-se. Agosto, descaradamente quente e convidativo, chega e leva-vos para férias. Já já ou daqui a nada. A mim, leva-me de volta ao norte, onde o Verão parece ainda estar em cena também. Mas eu sinto uma espécie de neblina, porque a despedida tira a clareza. No entanto, a calma volta depois e "tudo está bem quando acaba bem". Em Västerås, se fechar os olhos, não perco de vista canto nenhum de rua nenhuma; sei como é que o nosso sol bate ao fim da tarde na parede caiada ou na areia espelhada pela maré que baixou; revejo as andorinhas em desassossego alentejano; oiço as cigarras quase em coro com as ondas, e pela água os lugares fundem-se, sem conflito. Lá e cá, é estar em casa.
Agora, como há cinco anos: até amanhã!