quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Vou-lhe chamando "Obstinação", para já. E esta é a sinopse da contracapa.

Revelo só mais umas linhas! Resultado prático do exercício: cinco palavras novas.




Ester Nilsson tem 31 anos. É poetisa e enssaísta e uma pessoa razoável numa relação razoável. Num dia de Junho recebe um telefonema pedindo que apresente uma palestra sobre o artista Hugo Rask. Entre o público está o artista em pessoa, entusiástico, e depois da apresentação os dois encontram-se pela primeira vez.
A partir de agora, o que resta da existência de Ester está associado àquela conversa, segundo ela totalmente inofensiva. Dificilmente algo do que acontece mais tarde poderia ter causado outro efeito senão a cadeia de acontecimentos que ali tem início.

Entre Ester Nilsson e Hugo Rask começa uma espécie de história de amor, banal na sua simplicidade, sublime na sua completa devoção.

Obstinação é uma história sobre a vontade de nos iludirmos a nós próprios face ao desejo de sermos amados.

E então? 






segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Como se recomeçasse. Um "Da capo". Mas sem promessas. E depois, um telefonema.

Sem comentários à lonjura que separa este do último texto. Sem preâmbulos sobre as razões deste afastamento, e sem posfácios com compromissos de regresso. Só espero que estejas bem e que recebas o que agora vem :)

Estive em casa doente. Uma gripe. Seis dias, quatro dos quais perdidos na falta de energia, nos montes de lenços de papel usados, nas canecas sujas de chá com mel e gengibre. E proibida de falar, porque tudo começou com o sintoma ingénuo de voz arranhada. Mal sabia eu!
As minhas cordas vocais e eu temos andado em desarmonia; adoramo-nos e precisamo-nos, mas tem sido difícil conciliarmo-nos. Não tenho nem a profissão nem o tipo de gostos que se façam sem voz.
O resto do boletim clínico não importa agora. Estou melhor, e amanhã já vou trabalhar. Mas o que me traz de volta ao blogue aconteceu nestes dias de fastio - isso sim, é o que quero partilhar.

Se eu aqui colar uma coisa que tenho escrita:


Egenmäktigt förfarande – en roman om kärlek
Comportamento arbitrário /Obstinação – um romance sobre o amor
de Lena Andersson (2013, vencedora do prémio literário August de 2013)

Uma pessoa chamava-se Ester Nilsson / Ester Nilsson era o nome de uma pessoa. Ela era poetisa e ensaísta com oito cadernos densos/compactos publicados aos trinta e um (anos.) Intransigentes segundo alguns, lúdicos/divertidos segundo outros, mas a maioria nunca tinha ouvido falar dela.
            Com uma precisão assombrosa, ela via a realidade a partir da sua consciência e vivia na ambição de que o mundo era tal qual ela própria o via/sentia/experienciava. Ou, melhor dizendo, que as pessoas eram feitas de tal modo que viam o mundo tal como ele era, desde que estivessem atentas e não mentissem a si mesmas. O subjectivo era o objectivo e o objectivo era o subjectivo. Em todo o caso, era assim a sua demanda/ era este o seu esforço /era esta a sua busca.
            Ela sabia que a busca de igual precisão na linguagem era como um espaço trancado/fechado, mas procurava ainda assim, porque qualquer outro ideal tornava a demanda demasiado simples para os batoteiros e negacionistas do intelecto; aqueles que não eram suficientemente meticulosos para compreender a relação entre os fenómenos e como eles se faziam representar pela linguagem.
            Ela era, não obstante, obrigada a ver uma vez após outra que as palavras mantinham uma aproximação. Do mesmo modo que o pensamento, o qual apesar de construído por percepções sistematizadas/sistemáticas e linguagem, não era tão confiável como fazia parecer.
            As lacunas terríveis entre pensamento e palavra, vontade e expressão, realidade e irreal, juntamente com o que cresce/se desenvolve no meio desses hiatos – é disso que trata esta narrativa.
            Desde que Ester Nilsson aos dezoito anos de idade se apercebeu que a vida, ao extremo, corre para afugentar o tédio e, apontando nessa direcção, descobriu pelos próprios meios a linguagem e as ideias, nunca mais tinha sentido infelicidade, nem sequer um vulgar/normal abatimento/tristeza. Ela trabalhava permanentemente com a descodificação da natureza do mundo e das pessoas.  (…)
            Tinha vivido assim treze anos, mais de metade do tempo em relação harmoniosa e tranquila com um homem que tanto a deixava em paz como satisfazia as suas necessidades físicas e mentais.
            Depois, recebeu um telefonema.

Isto é um rascunho muito rascunho, um alinhavo grosseiro de uma tradução. Há frases cuja tradução mais fiel e/ou correcta ainda nem consigo decidir. Seria/Será o capítulo 1 de um livro lido há uns meses. Adorei! Mais que antes, percebi o quanto ainda tinha a aprender da língua sueca. Mais que antes, dei-me conta da beleza e da clareza de imagens que esta língua pode transmitir. Mesmo quando preciso de consultar frequentemente o dicionário e recomeçar um parágrafo inúmeras vezes.

Isto é, para já, um trabalho de casa ou um passatempo para aconchegar o Outono que começou. Mas se em alguma altura tomasse forma de um projecto mais sério... Vejamos: se tirasses de uma estante um livro que começava assim, querias saber mais?