sexta-feira, 28 de março de 2014

Tem acontecido

Partindo do princípio, não muito modesto, de que esta primeira linha já está a fazer-te sorrir, pois cá vai um sorriso de volta :) Olá! Espero que estejas bem.

Se me distraísse mais um pouco, acabaria por esquecer-me da promessa de escrever aqui, dar notícias e treinar o meu português, que está a enferrujar. Acontece, mais vezes que menos, uma demora de segundos para me lembrar de palavras portuguesas... hammm...7... 8...9...10... POLISSILÁBICAS! Lá está, 10 segundos.
Da última vez falei de um estranho fascínio pelos Jogos Olímpicos de Inverno. Hoje é mais para pôr em dia um pouco do que tem acontecido.

A Västerås, chegou a Primavera. Não lancemos ainda os foguetes, porque Abril não é de fiar, mas não queremos mais neve! Agora é a vez do sol que, de semana para semana, ilumina mais e mais tempo. É  a vez dos pássaros coloridos que não se cansam de cantar. É a vez dos troncos e ramos secos se mostrarem, de novo, com folhas e flores em botão.
Março trouxe de volta o sol, e no entanto foi um mês com alguns momentos bastante sombrios. Outros não, claro.
Eu resumo: o trabalho na escola é muito, e faço-o como os outros colegas (com os conhecimentos, com os erros, os sucessos, os atrasos, as reflexões e dúvidas, as frustrações, as epifanias...). Não sou, porém, uma professora "como a Suécia manda". Preciso que uma certa entidade me reconheça as habilitações e me dê equivalência, num pedaço de papel branco. Há que tempos que andamos num namoro de manda carta, responde a mail, pede documento, telefona, pergunta, pergunta a outra pessoa, passa-a-outro-e-não-ao-mesmo, etc. Ora, isto chateia e cansa! Voltar a estudar?! Como?! Quanto tempo?! E se eu não estiver para aí virada?! Bom, então daqui a 2 anos não há contrato, porque a Suécia burocrática pode não querer dar-me um pedaço de papel branco.
Para já, sem pânicos, devo dizer: soube na semana passada que, mesmo sem tudo devidamente regularizado, querem que continue na escola mais um ano! Não devo estar a fazer tudo mal.
Ah, mas à precaução, no dia 6 de Maio tenho um exame de sueco. Depois logo se vê o que se segue.
Se torceram por mim quando fiz o de castelhano, podem fazer uma forcinha desta vez também ;)

Em plena incerteza e batalha acontecem bons momentos, porque há sempre alguma janela que se mantém aberta. Tive o apoio e a esperança de colegas, o optimismo e as sugestões criativas de amigos, os alunos que expressam gratidão, e até duas páginas de jornal com a minha fotografia ao meio. Quem diria?! Que Março!

Não, ainda não tive o tempo necessário para me sentar a fazer a tradução. Sorry. Mas posso dizer que houve generosidade e sensibilidade nas palavras da jornalista que quis contar sobre mim (sobre portugueses e Portugal), e de muitos lugares recebi mensagens amáveis e igualmente generosas de reconhecimento. Vieram convites e ideias para projectos.

Agora é mais um fim de semana que começa, e que falta me fazia. Três horas e meia mais tarde do que o horário manda, saí da escola e o sol brilhava, morno e promissor. Fui cortar o cabelo e falar de coisas leves com a minha cabeleireira, que é do Michigan. Comprei túlipas, como de costume, e enfeitei a sala com elas. O bolo branco, o dos meus pecados durante a semana, chegou ao fim com uma chávena de chá por companhia.
O sono é tal que daqui a pouco não consigo nem escrever palavras ...3...4...5... dissilábicas!



domingo, 9 de fevereiro de 2014

Entusiasmo abaixo de zero


Never say never, porque afinal o antes impensável pode acontecer. (O antes impensável? Soa quase tão bem como inconseguimento, não vos parece?!)

Estou, há quase duas horas, a seguir transmissões em directo de diferentes modalidades olímpicas. E dou por mim a torcer por atletas suecos como se fossem a Rosa Mota no último meio metro da maratona! Ou seja, faço o que uma grande parte dos escandinavos faz num Domingo assim: uma caneca de café, uns biscoitos e esqui & companhia na televisão.
Um sueco chamado Marcus Hellner ganhou, há pouco, a prata em Esqui de Fundo, e uma final assim não deixa dúvidas de que se transpira muito, mesmo abaixo de 0°! Eu fico exausta (eu, que não sou nada uma pessoa de desporto - desculpa, tio Paulo!) só de pensar em cada músculo do corpo que se mexe para vencer provas contra a neve, contra o frio e contra os outros, que também querem a medalha.
Devo dizer-vos, não é nada difícil ficar entusiasmada com o que estes talentos conseguem alcançar. Viver no norte ainda não parou de abrir horizontes desconhecidos.

A pátria branca e fria de Dostoievski, Tolstoi e Pasternak recebe estes Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi. Se não pensar em todas as controvérsias e me abstiver dos absurdos custos de que se fala, então resta elogiar a cerimónia de abertura, impressionante e emocionante.

Tudo acontece sobre neve ou gelo; Rússia, Canadá, Estados Unidos, Noruega e Suécia são alguns dos candidatos mais fortes a somar medalhas. E agora não fiquem à espera de que eu siga com comentários interessantes, porque não estou à altura de nada mais eloquente do que isto no que toca a Jogos Olímpicos de Inverno. Pode ser que até 2018 aprenda mais alguma coisita! Por enquanto, vou "domingar"  mais um pouco e continuar a ver provas cujas regras desconheço.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Tulipas e outras coisas boas (ou menos boas)

Bom dia!
Novo sábado, nova oportunidade para a preguiça. Mas não! Voltei a acordar cedo. Os limpa-neves são ruidosos e arrastam-me dos meus sonhos quando a luz ainda está para nascer. E porque andariam esses raspadores de ruas lá fora? Porque há uns 10 centímetros de neve a forrar os caminhos desde ontem. Um nevão muito mais sério do que os incipientes flocos que iam caindo nas últimas semanas.

Por esta hora (9 e picos em Portugal), já tomei o pequeno-almoço, folheei o jornal e o Facebook, paguei umas contas online e cuidei das tulipas, que cresceram muito durante a noite.
Diria uma colega do trabalho que as tulipas são a nossa consolação entre o fim da época natalícia e a Primavera. São o que dá cor a estes dias que se pintam com uma palete de brancos e cinzentos. E é um pouco assim. Com a chegada de Fevereiro, porém, não só as tulipas darão cor e alento; vi ontem numa app da meteorologia que, entre hoje e o próximo sábado, o período de luz vai aumentar 25 minutos. E a cada semana que passe, a diferença será cada vez mais visível. O sonho da Primavera é possível outra vez! :)

Ora, uma aspiradela é o que se segue, o duche a seguir, e uma caminhada até casa de uns amigos, onde vou almoçar. Tudo isto são coisas boas.

Depois, quase que a comemorar o aniversário da Theatron, vou ao teatro. Sabem no que pensei quando soube do evento? Num "pijama" de sobremesas. Porque é mais ou menos isso que vou ver: um "pijama" de pequenas companhias de teatro, que dão a provar um pouco do seu trabalho. Esta também me parece uma coisa boa.

Ontem aconteceu a primeira das aulas particulares de português com uma aluna sueca. O amor diz que tem destas coisas! O namorado é português, vive cá, e ela resolveu aprender a língua para lhe poder falar ainda mais ao coração. Para mim são um prazer estes encontros com aqueles que, genuinamente, apreciam a Portugalidade. Esta é, sem dúvida, uma coisa boa!

O que não é bom é o hábito dos meus vizinhos do andar de baixo! Já vamos no segundo tapete que me desaparece da porta para reaparecer à entrada de alguém no primeiro andar! Ou suspeitam que eu tenho sentido de humor e isto é só uma piada aos fins de semana, ou então... há os governos que tiram aos contribuintes e os vizinhos que tiram aos vizinhos. A comparação não é brilhante, mas qualquer uma das coisas é feita sem respeito e com uma grande dose de lata!


domingo, 26 de janeiro de 2014

A nossa pátria é a língua portuguesa

Beberrica-se um café, fala-se português de diferentes paisagens, e está-se "em casa".

Västerås torna-se cada vez mais lusófono e é rica a mistura de sotaques. Enriquecedor é também o conhecimento daqueles que, depois de 5 minutos ou de 3 horas à mesa, já são novos amigos. Bem-vindos Rita e Pedro, Vitor e Luís.


       

sábado, 25 de janeiro de 2014

I surrender









Fim de Janeiro, e as tardes já são um pouco mais longas.

Podia ter sido uma manhã para dormir, longa e preguiçosamente, mas despertei cedo. Vem do hábito. Pensei, ainda afundada na almofada, que este devia ser um Sábado para corrigir testes e tal, mas em vez disso comecei o dia a limpar, aspirar, fiz um bolo e, ao som dos Deolinda, dancei na cozinha com a esfregona por par. Que figura!! :D
Dou-me ao luxo de hoje ainda não ter pensado uma palavra que fosse em sueco, talvez por isso seja um momento propício para aqui escrever. Aproveitando a luz que ainda entra na cozinha, corto uma fatia de bolo (podia ter corrido melhor - para a próxima, respeito a receita) e recordo o filme que fui ver ontem.

Podia dizer numa palavra apenas: rendo-me. Levou tempo até eu apreciar o trabalho do DiCaprio, mas o papel de Jordan Belfort, achei-o digno de Óscar, sim senhor. E percebo que é uma maturidade em construção já de papéis anteriores.
Hipérbole, exagero, luxúria, volúpia - e é chamar-lhe pouco. Baco ruborizaria, digo eu. Três horas de muito bom guião construído sobre o pior nível de linguagem e momentos que tocam uma espécie de grotesco da contemporaneidade. Os risos e as gargalhadas vindos do público soam em muitos momentos de desconforto, para desviar o embaraço. Ascensão, excentricidade, auto-destruição, decadência, solidão, medo. O fim.
Não só o DiCaprio faz um bom trabalho; quase todo o casting me pareceu perfeito para a estória! E a visão do Senhor Scorsese é não a de um lobo de Wall Street, mas de mestre de Hollywood.


Nota para mim mesma: elas podem existir

Eu não sou a Cinderela: falta-me - só mesmo a título de exemplo - a destreza para transportar três tabuleiros com chávenas e bule, de uma só vez.
Mas as irmãs, essas suspeito que existem. De quando em quando, cruzo-me com elas. Não são nada fáceis. Indispõem! Mas depois passa.


sábado, 11 de janeiro de 2014

Memórias - de uma Gueixa, não, de um joelho

Branco e leve, o dia passou.
A criançada apareceu para brincar com a neve, os pais também. Botas e kispos hão-de estar, ainda pingando, pendurados à espera de sair de novo amanhã. Que pagode! Mesmo à minha porta havia marcas de pequenos "anjos de neve" :)
Depois do cinema, caminhei até casa sob flocos puros, brilhantes, frios. Este é o Inverno sueco de que gosto - com o risco de cair a cada passo, com o branco que não vai durar muito, mas há um silêncio bom e fica-se mais perto da fantasia da Disney.



Da fantasia à realidade, dói-me um joelho. O direito, para ser mais precisa. O sintoma tende a vir com a neve e com o sinal de menos no termómetro. Ah, e com o sinal de mais na idade, também.
Do que me lembro - é o joelho que mo recorda -, estava escuro e eu ia avenida João XXI acima. O escuro era o da manhã, isso ainda sei, e a minha caminhada tinha pressa. 
Ora, a calçada portuguesa pode ser uma obra de arte, mas quando em obras e com crateras abertas, cai-se nela como noutro chão qualquer. E eu, nesse madrugar escuro, tropecei num paralelepípedo fora do buraco a que pertencia e aterrei, num ponto preciso e com um som oco, no joelho direito. Deve ter sido uma linda coreografia, mas àquela hora havia, para minha sorte, pouca gente acordada. Doeu-me, se doeu! O joelho, e o estrondo que senti por dentro do corpo todo. No entanto, continuava com pressa e fiz por seguir o meu caminho.
De então para cá, sobretudo nestes últimos três invernos de rigor, regressa esta memória. Passará com os "pós de Maio".

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

S & S - Sexta e Sofá





Foi um dia de aulas bonzinho, hoje.
Alunos de inglês que fazem críticas pensadas e construtivas sobre o primeiro semestre e que parecem agradados com os planos para a próxima metade do ano; alunos de castelhano que vão, passo a passo, olhando mais para mim do que para o telemóvel - not bad! Estes são os dias inspiradores.
Mas, na verdade, o maior encanto das sextas-feiras é serem sextas-feiras. Há sofá, há tempo para ver um pouco de televisão, o serão poder durar até depois das 21h e o despertador promete não tocar às 5h30 por duas madrugadas seguidas. Gosto disso!

Para celebrar este dia e alegrar o móvel junto ao sofá comprei túlipas: um ramo de brancas, outro de vermelhas. Bem bonitas! A minha casinha agradece.
O mais engraçado é que, no supermercado, estava um sénior simpático à porta e que elogiou as ditas flores. Perguntou-me se eram para o meu marido (oh, imaginação nórdica!!). Respondi-lhe que eram para mim. Ofereceu-me um sorriso generoso, disse-me que eu era certamente merecedora e desejou-me bom fim de semana.

A sexta-feira é, como as férias em Montemor, uma espécie de ilusão fugaz. Parece-me sempre que vou  ter tempo para mais do que realmente desejo.
No meu optimismo, a partir de agora e até Domingo hei-de conseguir dormir, cozinhar, ler, trabalhar em casa, trabalhar na escola, ir ao cinema... Hum, não sei, não sei.
Mas o filme, já agora, há-de ser "Philomena", com uma senhora que fará bem o seu papel, desconfio eu - Dame Judi Dench. Como aquecimento, aproveito o que está a dar agora na tv, com uma senhora não menos grandiosa no ecrã - Meryl Streep  em "The bridges of Madison County".

Bom fim de semana!

sábado, 4 de janeiro de 2014

Depois do duche


Já sei o que vão dizer: Há quanto tempo! Dava para acreditar que tinhas deixado de escrever. Tinham-se-te acabado as histórias para partilhar?
Entre Outubro de 2012 e este chuvoso despontar de Janeiro de 2014 (são muitos meses, how embarrassing!) não faltaram, na verdade, momentos e pensamentos para contar - mas não houve a disponibilidade, ou a inspiração das palavras, ou outro factor qualquer que importa reunir no instante da escrita.
Hoje, porém, acabada de regressar à Suécia - depois de duas semanas de Natal, de afectos, Família, Amigos e petiscos perversamente deliciosos e constantes - quero escrever. Depois é que vou dormir.

Não preciso de recuperar memórias; o que já foi, já foi.
Escrevo do agora, e no agora acabei de desfazer as bagagens, de guardar tudo nos devidos lugares cá de casa, de beber um chá de limão e de tomar um duche. Modéstia à parte, com os vai-vem entre o Norte e o Sul fui-me tornando mais eficaz e rápida no abrir das malas e no devolver dos objectos à sua origem; eficácia e talento só comparáveis com os do pai Vivi, que é um expert em arrumar bagagem antes das viagens: ele faz listas, ele pesa, ele arruma, ele garante que nada falta. E a Mimi ajuda.
E por falar em agora e em duche: água foi coisa que não faltou nestas breves férias de Natal. A chuva, da que aborrece e molha de verdade, faz falta, essa é que é essa, e S. Pedro não poupou nada nos últimos dias. Contrária e estranhamente, na casa dos meus pais (e noutras em Montemor, contam-me) as gotas que caem na hora do duche são pouco convincentes para meu gosto. Nesta altura, a minha mãe vai sorrir (ou não), e comentar Ai esta rapariga, que tem ela de contar da água e dos banhos cá de casa? Pois.

A partida de Lisboa esta manhã não me veio nada a calhar, foi difícil. Foi e é, no agora, porque a despedida nunca é fácil. Fácil é a lágrima que vem com os abraços importantes, fácil é a saudade, fáceis são interrogações e dúvidas sobre a partida. Mas também é curiosamente fácil este sentimento de estar em casa. Uma pessoa de quem gosto muito recordou-me que a nossa casa é onde está o nosso coração; eu vou mesmo sentindo que a minha casa é o meu coração e quantos moram nele comigo. Ou seja, estou sempre em casa, aí e aqui. No entanto, de novo no número 28 da Sigfrid Edströms Gata, o duche, esse é mais quente e a água cai com a pressão certa ;) Que bom!

As notas de ironia na escrita são um escudo, claro - "brincar" com a distância e com os contrastes ajuda a tirar-lhes o peso. Só não deixa de ser verdade que foi o duche de há minutos que me trouxe de volta ao blog!
Ora, eu tomo duche todos os dias - continuarei a escrever diariamente? Não. Vai faltar a disponibilidade, ou a inspiração das palavras ou outra coisa qualquer. Mas vou voltando. É uma das decisões para 2014.