sábado, 8 de outubro de 2011

De como um homem pode pôr uma cidade de olhos no chão



Saudações fresquinhas! (Coisa para 1 grau, 1 grau e meio.)
Foi mais de uma semana de preguiça, sim senhor. Mas estou de volta, e temos escrita para pôr em dia.
Não será tudo para hoje... mas comecemos:
A carta que andava desnorteada, achou-se!
«Ah, que grande alegria!!!»... Pois, mas ainda não é a alegria toda, é só um bocadinho... Quer dizer: em justiça sim, é muito positivo ter uma carta do serviço de migração, que me reconhece como cidadã europeia com autorização de residência na Suécia pelo tempo que eu desejar. No entanto, este ainda não foi o documento que encheu as medidas dos Senhores do Número, que, entretanto, já me pediram mais documentação e que não têm, p'rá troca, nem a previsão de uma data para me sossegar a ansiedade do calendário [ansiedade do calendário: sintoma dos cidadãos residentes na Suécia que desconhecem a data em que lhes será atribuído o tão esperado Número Pessoal.]
Registe-se: só já volto a escrever sobre o Número e/ou outros eventos burocráticos quando for para comemorar o fim de todas as esperas! Nesse dia, para celebrar, sou até capaz de, sei lá, de uma loucura! Andar de bicicleta, por exemplo! [nota: A frase anterior não é uma promessa, é um mero recurso estilístico, para acrescentar interesse ao texto (ou não).]
*******
Deixem que conte, também, que a visita dos Vivis foi um aconchego bom, muito bom!!Rapidamente voltam as saudades, claro; porém, enquanto estiveram aqui pertinho, o coração encheu-se de coisas boas! E os abraços que saíram da bagagem, vindos dos braços de tantos amigos, foram um mimo de luxo. MUITO OBRIGADA!
Diga-se, aliás, que alguns dos "mimos viajantes" eram de peso: postas de bacalhau (anteontem cozinhadas à Zé do Pipo); biscoitos de azeite e canela da padaria Almodôvar e bolinhos de amêndoa da Violeta (Pub.), bolo branco (que já foi bolo e já foi branco); castanhas, nozes e marmelada, em jeito de Outono; queijinhos cheirosos do Alentejo; ervas diversas das que o Mestre Salgueiro recomenda, boas para tudo e mais alguma coisinha... Tudo de bom, portanto, para colesterol e triglicéridos, mas também para os combater.
Allt var jätte, jättegott!
*******
No Dia da República, um avião levou os meus pais de volta para um Portugal mais que morno, e aqui ficou uma Suécia onde os tons dourados e vermelhos das árvores começam a ceder às noites frias e ao vento - os ramos cansam-se do namoro com as folhas e deixam-nas cair. Para o ano há mais, com folhas jovens e verdes, acabadas de trazer pela Primavera.
... ... ... Estava capaz de apagar e tentar de novo o parágrafo, melhorá-lo... mas como o Prémio Nobel já está entregue, não vale a pena. [Pela vossa rica saúde, não me levem a sério, que isto é só da liberdade irónica das palavras!]
Sinto como um privilégio, estar neste país no momento em que um Prémio regressa à casa, após 37 anos! A Suécia vibrou, de facto, por Tomas Tranströmer, e Västeras festeja com os olhos postos no chão!
Vamos ver se me faço entender: o poeta que a Academia Sueca distinguiu este ano viveu nesta mesma cidade de onde agora vos escrevo. Entre 1965 e 2000, Tomas Tranströmer observou daqui a natureza, criou aqui metáforas e imagens, escreveu aqui uma poesia para todos, que é lida por todos. Há alguns anos, o município quis homenagear o ilustre concidadão, espalhando versos seus nas "calçadas" do centro. A notícia do prémio devolveu aos olhos de Västeras a curiosidade pelas palavras que os pés se habituaram a ignorar.
Tanto quanto vim a perceber, Portugal não cabe devidamente na lista de países onde a obra de Tranströmer está traduzida. Oxalá possa chegar às bancas, em breve, algum trabalho do autor: do que leio e percebo no original, é uma poesia aparentemente despretensiosa, simples, reveladora da relação tem que o Homem com a Natureza daqui - mas cada palavra é rica em sentidos.
A ler!
Para além dos versos e das metáforas, Tomas Tranströmer tem também uma paixão pelo piano, e nem a limitação de movimentos, provocada por um AVC, o impede de afagar ainda as teclas com a mão esquerda. Em reconhecimento da força poética que é a Vida de um criador, deixo um tema musical de outras grandes mãos da Suécia - Jan Johnasson.
Volto depois para contar mais. Bom início de semana!

Sem comentários:

Enviar um comentário