sábado, 24 de outubro de 2015

A clementina perfeita


Comprei umas tangerinas no supermercado esta semana. Porque gosto mais da palavra clementina, vou chamar-lhes antes assim. Que eu saiba, não há nenhuma autoridade que possa processar-me por alteração de entidade de um citrino.
Comprei, portanto, clementinas. No pensamento tinha a imagem, desejada ao microscópio, do momento em que a unha dum polegar ajuda a sulcar o primeiro pedaço irregular da casca - a clementina perfeita, nesse instante, vaporiza gotas de sumo quase imperceptíveis e exala um perfume que perdura, por uma breve eternidade, na ponta dos dedos.
Depois, a antecipação dos gomos - terão caroços? E a seguir, a degustação: uma espécie de cerimonial onde o sabor me deveria levar a um dia de Outono no Alentejo.
As clementinas que comprei não eram perfeitas. Mas ir ao supermercado pode proporcionar um passeio de fenómenos estéticos que pelo menos quatro sentidos podem saborear.

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