terça-feira, 27 de outubro de 2015

"Ja må hon leva!!"

A fotografia basta para saberem como é bonita. Basta para saberem o quanto gostamos dela.
Esta jovem, cuja idade não vou desvelar, é a minha, a nossa Avó Vitalina.


A fotografia bastava, mas eu não consigo não contar mais um pouco.
A avó Vitalina era sempre aguardada com muita expectativa lá em casa, e era um pagode dormir com ela numa cama feita no chão (um pagode para mim - ela não dormia nada, porque eu dava demasiados pontapés).

A avó Vitalina amornava-me sempre leite numa pequena chávena (branca com uma risquinha roxa e um malmequer) e adoçava com uma colher de açúcar - à noite, em pleno Verão.

A avó Vitalina tinha sempre coisas novas nos armários para eu explorar a cada visita à Cova da Piedade. E a despensa era um lugar fascinante.

A avó Vitalina levava-me cedo para a praia todos os dias entre Julho e Agosto (todos os dias não; o avô Manel partilhava esse tacho com ela). "Verinha, vamos apanhar o autocarro a Cacilhas, que ainda há lugares para irmos sentadinhas". E cada dia representava um risco novo feito num papel reutilizado. "Filha, sabes quantos dias já foste à praia? 20! Temos de contar ao teu pai quando ele ligar logo à noite."

A avó Vitalina tem medo do mar e água pelos joelhos já era um abuso; para me afastar da ondas, levava uvas para a praia.

A avó Vitalina tem uma paciência....

A avó Vitalina sabe que o meu gelado preferido é o de pêssego que ela faz.

A avó Vitalina gosta de café com leite, acompanhado de pão e queijo, e adora azeitonas, mesmo que vá repetindo entre cada caroço "Não posso, que elas fazem mal!"

A avó Vitalina domina os transportes da TST e Carris como ninguém, e ensinou-me a conhecer Lisboa pelos números das carreiras.

A avó Vitalina levantou-se todos os dias, durante os seis anos que estudei na faculdade, para me perguntar se precisava de alguma roupa passada ou se queria que me fizesse o Nestum do pequeno almoço (sim, eu comi Nestum Mel até aos 23 anos!!)

A avó Vitalina é a mulher com mais sentido de marketing natural que conheço e é uma vendedora de Tupperware como não haverá outra.

A avó Vitalina finge não perceber quando lhe dizemos que não queremos mais comida no prato, mas é, na verdade, uma ouvinte extraordinária e muito sensata.

A avó Vitalina é uma mulher-menina que ainda gosta de brincar ao Carnaval como gente pequena, com máscara, com pastéis de grão "marotos" e muitas estórias de carnavais antigos para contar.

A avó Vitalina é um exemplo de boa disposição, e tem uma gargalhada e uma capacidade de rir de si mesma que é invejável.

A avó Vitalina nunca pensou ter uma neta emigrante. E como tem medo de andar de avião, só lhe posso mostrar por fotografia "como é que é lá".

A avó Vitalina é muito mais do que isto, no passado e no presente. E não o é só para mim.

A avó Vitalina tem ao lado um avô Manel, e são uma dupla capaz de me fazer escrever uma lista bem mais longa do que esta.
Parabéns, avó Vitalina!

3 comentários:

  1. A Avó Vitalina podia ser uma enorme personagem de Vila Nova!

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  2. ....procurei onde clicar...inda bem que não encontrei... porque assim posso escrever : ADOREI ! ... e mais um privilégio - conheço a AVÓ VITALINA !

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  3. Belas gargalhadas, obrigada. A nossa avó Vitalina é mesmo assim e tem um coração de ouro.

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